O fato é que a menina continuou com o seu inusitado ritual de admirar as nuvens aos fins de tarde, e com isso a curiosidade da mãe só aumentara (pois de fato, acabou também se tornando uma espécie de rotina para a mãe espiar a filha pela janela de sua cozinha), e cada vez mais e mais foram se passando os dias...
E foi assim, dia após dia, a menina deitada no gramado olhando para o céu, e a mãe na cozinha observando a sua filha pela janela - é difícil de descrever a relação da menina com as nuvens, mas parecia até que elas exerciam algum tipo de influência sobre a menina, algo quase que hipnotizante – era como se fosse um filhote de pássaro que nasceu trancafiado em um cativeiro, e que teve suas asas cortadas para que não se pudesse mais voar, e do chão olhava para os outros pássaros que voavam pelo céu e o mesmo sentia certa tristeza, misturada com doses maciças de saudades, pois mesmo que nunca tivesse voado em sua vida e não lhe houvesse lembrança alguma de sua vivência naquele cenário celestial (cenário este, que ele tanto admirava) no fundo, ele sabia que pertencia aos céus – algo como um instinto – e que por mais confortável ou até mesmo feliz que fosse sua vida, sabia que a terra não era seu lugar, que lhe faltava algo, sentia-se um ser incompleto. E era desse jeito que a menina parecia se sentir em relação às nuvens, a ligação entre elas era como a do pássaro com o céu, parecia que a menina um dia já pertencera a aquelas nuvens, parecia que ela já fizeste parte daquele céu, e era isso que intrigava tanto a sua mãe, ela já havia visto muitas pessoas com um fascínio pelo mar ou até mesmo pelos planetas e as estrelas – O que até então achava normal, pois desde criança essas coisas de certa forma sempre a atraíra – mas nunca havia visto alguém que possuísse tamanho deslumbramento por tais coisas, e muito menos ainda, alguém que sentisse encanto pelas nuvens...
CONTINUA...