terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O dono do mundo

Não importa o que façamos ou o quanto conquistamos, sempre irá faltar algo, alguém ou alguma coisa em nossas vidas. Sempre existirá um vazio eterno em nossos peitos que, de teimoso, insiste em não querer ser preenchido por nada e nem ninguém. Somos todos escravos de nossas próprias ambições, perdidos em uma busca sem fim. Vivendo a mercê, ou na mais completa ilusão, de que um dia finalmente encontraremos algo que possa enfim nos fazer sentir-se livres, vivos, completos.

Trancados em uma caverna escura, estamos todos acorrentados á procura de uma resposta para algo que não sabemos sequer a pergunta. Apenas esperando pela tão gloriosa manhã em que chegará a pessoa predestinada a nos tirar desse lamaçal imundo que se tornou as nossas vidas. Mas o problema é que esse dia nunca chega, e receio que talvez jamais irá chegar.

O fato é que já prostituímos demais as nossas esperanças. 


Talvez seja essa nossa procura desenfreada pela felicidade que nos impede de sermos realmente completos de verdade. Talvez, quanto mais buscamos a alegria, mais confusos ficamos – até chegar o dia em que sequer nos reconheceremos mais, e tudo o que restará será apenas esse vazio insaciável que nos consome a cada dia mais. Estamos todos imersos até a alma em uma escuridão cada vez mais turva que parece não acabar nunca.

Talvez essa seja a maldição dessa nossa geração, o preço a se pagar por nosso infinito anseio. Nos tornamos os donos do mundo, mas ainda sim, nada parece realmente nos pertencer.

Jamais estaremos satisfeitos...


Quem terá a coragem de nos dizer que estamos todos fadados ao fracasso?

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Brilho eterno de uma mente sem lembranças


"O tempo pode até destruir as evidências do passado. Mas as memorias, essas permanecerão para sempre..."

Uma vez me você me disse que as lembranças são eternas. Eu acreditei. Eu cresci acreditando nisso. Eu nunca fui uma pessoa de muitas certezas, mas essa, essa era uma das minhas poucas convicções na vida. Eu sempre achei que, apesar do tempo, o seu rosto permaneceria para sempre intacto nas minhas lembranças. Cada linha do seu corpo. Cada curva do seu sorriso. Gravados eternamente em cada ínfimo átomo da minha mente. Mas minhas certezas se mostraram pouco confiáveis. E que o antes eu achava que era eterno, se mostrou nada além de efêmero e frágil.

É difícil não se recordar mais de algo que você jurou para sempre se lembrar. Você acha que se lembra, até um dia perceber que não se lembra mais. Pelo menos não da mesma maneira que você imaginava que as coisas eram. As fotografias estão aqui como provas do nosso fracasso. Ou melhor, do meu fracasso. Você olha para as fotos antigas e nem sequer se reconhece mais. E nenhum dos outros inúmeros rostos ali presentes lhe parecem mais familiar. Nossas lembranças se tornam traiçoeiras. Apaga-se rostos, alteram o passado, acrescentam inexistentes detalhes. A própria história se torna um mero rascunho.

O tempo pode até um dia conseguir apagar você de mim, mas as nossas fotos ainda estarão aqui. Serão para sempre eternas recordações de um passado onde talvez nada seja real.



segunda-feira, 23 de março de 2015

Valsa das flores

Quando crianças sempre achávamos que iríamos viver para sempre, que seriamos eternos imortais, e que o tempo — ah, o tempo — era apenas um monstro no armário ou só mais um conto de fadas qualquer que alguém costumava nos contar antes de dormir. Os dias se passam com o vento, e crescemos na ilusão de que temos todo o tempo do mundo, mas não percebemos que o tempo passa rápido demais e, em um piscar de olhos, todo o nosso presente acaba se perdendo no passado. Todas as nossas metas. Todos os nossos desejos. Todos os nossos sonhos...

Quantas promessas foram feitas que nunca serão cumpridas? Quantos amores foram desfeitos? Quantas memórias foram perdidas?

Passamos nossas vidas inteiras tentando acordar do coma que nos prende em nossas ilusões, mas, quando acordamos, percebemos que já é tarde demais, que somos fracos demais, e que a tão desejada realidade, não é tão boa assim como parecia em nossos sonhos.

De que vale a liberdade se não temos nada pelo que viver ou morrer?

O som da música ecoa através dos nossos ossos fracos, mas dessa vez estamos dançando sozinhos, e as flores, já não parecem mais tão belas assim. Talvez esse seja, enfim, o amargo preço a se pagar por se livrar de nossas prisões. Estamos fadados a vagar eternamente sobre escombros e flores murchas, e, quando a última flor morrer, estaremos de fato sozinhos, e não haverá ninguém para nos salvar de nossas próprias solidões.

O tempo...
Ah, o tempo...
Esse é mesmo um cruel capataz...


sexta-feira, 6 de março de 2015

Cigarettes and Fireflies

Quantos dias se passaram desde o ultimo inverno?
O silêncio se tornou uma constante. O telefone já não toca mais, talvez nunca sequer tenha tocado, eu não me lembro mais. Já nem sei mais por quantos anos fiquei esperando por alguém para dividirmos um chocolate quente e quem sabe um cobertor – mas no fundo, eu já sabia que não viria ninguém.
Quanto tempo se passou sem eu nem perceber?
Acordo todas as manhãs preso nesse mesmo dia, entre pernas abertas de desconhecidos e garrafas vazias. Acendo um cigarro, e tento apenas sobreviver mais uma vez a essa maldita rotina. O sol ofusca meus olhos, talvez na inútil tentativa de me lembrar de que ainda estou vivo. Olho no espelho e não vejo mais nada, nada além de um rascunho mal feito de quem eu já fui um dia. Não havia restado mais nada, o tempo já havia se encarregado de corroer tudo. A unica coisa que me sobrou naquele momento era uma vontade descomunal de querer gargalhar alto, mais tão alto, a ponto de poder ouvir todo o sarcasmo contido na minha voz misturando-se ao eco daquele silêncio ensurdecedor que a tempos consumia a minha mente.
Como foi que eu cheguei até aqui? Perdido infinitamente na infinita busca de algo, na falsa esperança de que, quando eu acordar no dia seguinte, tudo estará bem...