Comecei pela parte mais complicada. Acordar. Ver além da imagem que o meu rosto de ressaca refletia no espelho. Era só eu tentando me provar, mais uma vez, que o amor não existe e que tudo seria mais simples se eu adotasse a política do “Sexo sem compromisso”.
Bem, não estava funcionando.
A menina sem nome e sem roupa estava deitada no meu lado da cama, óbvio que o outro lado era sagrado para mim. Cocei a cabeça, lavei o rosto, fui até a cozinha e, para a minha surpresa, tinha esquecido de comprar o leite e sabe-se lá o que mais.
Parei por alguns segundos, e observei a mulher nua na minha cama, tentando entender em que mês eu estava. Lembrei! Agora tinha que colocar outras coisas no lugar, isso ia dar trabalho, com toda certeza deveria deixar o meu coração por ultimo.
“Ei, você tem que ir, minha namorada vai chegar em uma hora, preciso organizar tudo por aqui.”
Mas a verdade é que ela não ia chegar, nem em uma hora, nem em um mês, nem em um ano. Temos mania de determinar o tempo de volta de alguém, talvez quem sabe na esperança de que essa pessoa realmente volte, ás vezes isso serve para aliviar a dor da falta. Eu fazia isso com frequência.
“Ela vai voltar, eu sei que vai, ela não pode me deixar aqui sozinho. Ela sabe que tenho medo de gatos, tenho medo do escuro, tenho medo de ficar só”
Repetia isso em pensamento todos os dias, desde… sempre? Eu já nem me lembro mais. Vai ver um dia ela voltasse — Ok, aqui estou eu outra vez, brincando de deus novamente, tentando imaginar o futuro.
“Você me entende não é mesmo? Sua companhia é agradável, mas…”
“Eu sei, sou mulher, eu entendo perfeitamente.”
Tem dias em que você levanta da cama e tudo o que deseja é estar só. Imerso no vazio do seu próprio mundo particular. E no final da noite, depois de um dia exaustivo, você vai chegar em casa e se sentar nessa mesma cama, se perguntando o que fará mais tarde para tentar “sair do ar” por algumas horas, e depois se sentirá um inútil, quando ver que tudo que falta é alguém que você não sabe quem, e na verdade você sabe o nome dela, as manias dela, o telefone dela, mas, quando perceber isso, vai estar com a mulher errada na sua cama, e para não se sentir tão estúpido, irá acordá-la e dizer que talvez, o seu avô tenha falecido, ou qualquer outra coisa que a faça ir embora.
Eu estava com sono, e precisava de um bom banho, então apenas abri a porta para ela sair e tranquei outra vez. Nem dormi, nem tomei banho, apenas liguei o rádio e coloquei meu velho CD do Oasis pra tocar.
“Backbeat, the word was on the street, that the fire in your heart is out.”
Eu tinha mania de pegar os pequenos trechos das músicas, e encaixá-las nas minhas situações. Depois, pulei na parte do “You’re gonna be the one that saves me” — Puta merda! Oasis não estava funcionando. Nada mais funcionava.
Me sentia como um moleque perdido no meio da rua, procurando pela minha mãe. A gente só percebe o efeito que alguém tem sobre nós, quando perdemos esse alguém. E era por isso que odiava relacionamentos, você sabe como eles acabam, um dia você acha o seu mundo o paraíso, com borboletas no estômago, sorrisos bobos, no estilo “A fantástica fábrica de chocolate” e no outro, seu mundo é só uma pintura vazia com pontinhos brancos no meio de tudo preto. É realmente assustador.
Cheguei a dura conclusão que relacionamentos estragam as pessoas. Já tinha me acostumado com isso, eu deixava a saudade em casa, e saia por alguns dias, mesmo assim sentia falta de algo, e percebi que querendo ou não, um dia teria que voltar para casa.
A fim de passar o tempo, me diverti com a minha coleção de fotos antigas. Haviam fotos do meu irmão, fotos minhas com roupa de super-herói, fotos da minha mãe fazendo careta, fotos do meu pai e da minha mãe se beijando, fotos das minhas tias chatas. Minha coleção continha 5 CD’s, olhei todos. Menos um. “Nunca, em hipótese alguma, jamais, veja essa fotos” Fiz questão de destacar isso na capa. Eu não tinha um coração partido, admito que estive apaixonado, e é um pouco doloroso na verdade, é como brincar de cabra-cega, você sabe que alguém vai te tocar um dia, mesmo estando com os olhos vendados, então você vai em qualquer direção, na busca de alguém, mesmo não enxergando. Nem fotos, nem música, coloquei um filme.
“Sabia que mais de 35 pessoas tentam pular da ponte de Brooklyn a cada ano? A maioria por causa de coração partido.”
Apliquei outra vez algumas frases a minha situação, mas, eu não estava com o coração partido, não havia pontes por aqui, e eu estava com preguiça demais para me matar, então, deitei no meu sofá sujo, e continuei assistindo aquele filme de romance tosco, torci para conseguir dormir.
Queria poder dormir por uns dois meses, e depois de uns dois ou três porres e uma bela foda, dormir por mais um tempo indefinido, sem me importar que existe um mundo lá fora me aguardando. Mas a verdade é que eu já havia perdido as contas de quantos dias haviam se passado sem eu conseguir ter uma noite digna de sono.
Eu não sei o que eu tinha com ela, só sei que era bom, e pelo menos eu conseguia dormir, eu realmente queria que ela voltasse. Não estava doendo, só estava incompleto, e aposto que você deve entender como é se sentir assim, faltava, sei lá, alguma coisa.
Percebi que o destino armou direitinho para nós, olha só o que ele fez, tu entrou na minha vida, fez a festa, conquistou minha confiança, meu coração, e depois você simplesmente foi embora, levando tudo que tinha conquistado.
Desde que você se foi, prometi nunca mais olhar para trás, e não olhei, só dei uma espiadinha, de lado, pra ver se você vinha. Mas não veio. Então percebi que a gente foi só metade. Arrumamos o terreno, limpamos ele, mas, não plantamos as sementes, é por isso que dói, ficou só o terreno vazio. Marcas das raízes arrancadas.
Poderia falar sobre o que eu era antes de você, ou o que eu fui contigo, mas, não adiantaria, eu teria que pensar demais, e isso também me da preguiça, além de doer um pouco, então, falo só sobre quem sou agora. Gosto de cerveja, gosto de um rock maneiro, umas duas mulheres na minha cama, e ah, eu ainda gosto de você.
Talvez já fosse hora de me levantar e finalmente fazer algo útil — nada. Iria só tomar um banho rápido, e tentar escolher a mulher que iria me dar duas horas de prazer e esquecimento. Admito, eram as horas mais felizes do meu dia, e isso estava se repetindo já fazia algum tempo, se eu parasse para contar, hoje são 500 dias sem você, o que me lembra… 2x500, é… 1000 horas de prazer e esquecimento, eu estava conseguindo, lento, mas conseguia.
Também não vou contar sobre a minha incapacidade de fazer alguém feliz, eu te perdi, você se foi, e pronto, acabou, eu fiquei um caco, e você deve estar saindo com um outro alguém agora. Estou feliz por você, e espero que esteja feliz por mim também, eu sou um bom cara, só estou um pouco perdido ultimamente.
Eu sei que não existe nada que possamos fazer para trazer alguém de volta, o máximo que podemos fazer é guardá-las dentro de nós, e tentar não lembrar delas pelas outras horas que nos restam.
Eu gostava do teu cheiro, dos poucos palavrões que tu falava, das coisas maneiras que sua língua fazia, gostava mesmo, sinto falta delas, mas, puta merda, eu sinto falta de mim, eu também tinha um cheiro legal, e fazia coisas legais também, hoje sou só eu, tentando fingir que o amor não existe, tentando fingir que não estou com o coração partido. Odeio não conseguir admitir isso, odeio o cheiro da minha casa, ele exala a falta que você me faz. Odeio o barulho dos carros lá fora, odeio músicas, odeio fotos, odeio filmes, e principalmente odeio esse filme “500 dias com ela”.
Ela sabia que não ia dar certo, é por isso que ela se trancava em si, é por isso que ela teve medo de mostrar o mundo dela a ele, e o Tom, aquele bobão, ah, ele acreditava no amor e em recomeços. Odeio histórias assim, geralmente histórias de amor falam mais sobre o que não temos, do que sobre o que temos.
No meu caso, eu não tenho nada, então acho que darei uma bela história…
[…] você não estava errado, Tom. Você só estava errado sobre mim.