segunda-feira, 23 de março de 2015

Valsa das flores

Quando crianças sempre achávamos que iríamos viver para sempre, que seriamos eternos imortais, e que o tempo — ah, o tempo — era apenas um monstro no armário ou só mais um conto de fadas qualquer que alguém costumava nos contar antes de dormir. Os dias se passam com o vento, e crescemos na ilusão de que temos todo o tempo do mundo, mas não percebemos que o tempo passa rápido demais e, em um piscar de olhos, todo o nosso presente acaba se perdendo no passado. Todas as nossas metas. Todos os nossos desejos. Todos os nossos sonhos...

Quantas promessas foram feitas que nunca serão cumpridas? Quantos amores foram desfeitos? Quantas memórias foram perdidas?

Passamos nossas vidas inteiras tentando acordar do coma que nos prende em nossas ilusões, mas, quando acordamos, percebemos que já é tarde demais, que somos fracos demais, e que a tão desejada realidade, não é tão boa assim como parecia em nossos sonhos.

De que vale a liberdade se não temos nada pelo que viver ou morrer?

O som da música ecoa através dos nossos ossos fracos, mas dessa vez estamos dançando sozinhos, e as flores, já não parecem mais tão belas assim. Talvez esse seja, enfim, o amargo preço a se pagar por se livrar de nossas prisões. Estamos fadados a vagar eternamente sobre escombros e flores murchas, e, quando a última flor morrer, estaremos de fato sozinhos, e não haverá ninguém para nos salvar de nossas próprias solidões.

O tempo...
Ah, o tempo...
Esse é mesmo um cruel capataz...


sexta-feira, 6 de março de 2015

Cigarettes and Fireflies

Quantos dias se passaram desde o ultimo inverno?
O silêncio se tornou uma constante. O telefone já não toca mais, talvez nunca sequer tenha tocado, eu não me lembro mais. Já nem sei mais por quantos anos fiquei esperando por alguém para dividirmos um chocolate quente e quem sabe um cobertor – mas no fundo, eu já sabia que não viria ninguém.
Quanto tempo se passou sem eu nem perceber?
Acordo todas as manhãs preso nesse mesmo dia, entre pernas abertas de desconhecidos e garrafas vazias. Acendo um cigarro, e tento apenas sobreviver mais uma vez a essa maldita rotina. O sol ofusca meus olhos, talvez na inútil tentativa de me lembrar de que ainda estou vivo. Olho no espelho e não vejo mais nada, nada além de um rascunho mal feito de quem eu já fui um dia. Não havia restado mais nada, o tempo já havia se encarregado de corroer tudo. A unica coisa que me sobrou naquele momento era uma vontade descomunal de querer gargalhar alto, mais tão alto, a ponto de poder ouvir todo o sarcasmo contido na minha voz misturando-se ao eco daquele silêncio ensurdecedor que a tempos consumia a minha mente.
Como foi que eu cheguei até aqui? Perdido infinitamente na infinita busca de algo, na falsa esperança de que, quando eu acordar no dia seguinte, tudo estará bem...