sábado, 8 de março de 2014

Abismo


Por mais que eu tente, não consigo me lembrar do rosto dela, e nem das palavras que ela me disse antes de partir. Tudo se tornou um completo borrão, feito um esboço mal feito de algo que não sabemos direito o que é. Me lembro de como era lindo poder ver o sol refletindo na profundeza de seus quase oceánicos olhos azuis – ou será que eram castanhos? – e em como era perfeito todos os nossos fins de noite em que eu apenas aconchegava a sua cabeça em meu peito e admirava a sua cara de sono, escondida no meio dentre seus tantos cabelos dourados – talvez vermelhos – todos bagunçados.
Hoje, fazem exatamente três anos que você se foi, e o buraco que sua partida deixou no meu peito ainda não cicatrizou – e receio que nunca irá cicatrizar – e por mais que eu tente te segurar forte e manter-la viva em minhas memorias, sinto você escapando por entre meus dedos. Não consegui impedir que o tempo te levasse e, aos poucos, vi seu rosto sumindo no meio de tantos outros. Quanto mais eu lembro, mais eu esqueço. Quanto mais me aproximo, mais me afasto. Quanto mais eu sonho, menos acabo sonhando. Até chegar o momento em que tudo se tornará nada, e o nada se tornará nada mais do que apenas um grande abismo de lembranças corrompidas, repleto de uma infinidade de histórias rascunhadas pela metade.
Eu só queria poder ter a certeza de que, não importa o tempo que passar, você estaria para sempre em meus pensamentos. Mas minhas certezas andam tão falhas ultimamente. Jurei pra mim mesmo naquele dia que nunca iria te esquecer. Mas hoje, tenho medo de acordar e não me lembrar mais de você...



Algumas lembranças vão simplesmente se apagando com o tempo, se dissolvendo, até chegar ao ponto do total esquecimento, como se nunca tivessem sequer existido.

sábado, 1 de março de 2014

The last time we say goodbye...

Saudade não é o que a gente sente quando a pessoa vai embora. Seria muito simples acenar um ‘tchau’ e contentar-se com as memórias, com o passado. Saudade não é ausência. É a presença, é tentar viver no presente. É a cama ainda desarrumada, o par de copos ao lado da garrafa de vinho, é a escova de dentes ao lado da sua. Saudade são todas as coisas que estão lá para nos dizer que não, a pessoa não foi embora. Muito pelo contrário: ela ficou, e de lá não sai. A ausência ocupa espaço, ocupa tempo, ocupa a cabeça (até demais). E faz com que a gente invente coisas, nos leva para tão próximo da total loucura quanto é permitido para alguém em cujo prontuário se lê “sadio”. Ela faz a gente realmente acreditar que enlouquecemos. Ela nos deixa de cama, mesmo quando estamos fazendo todas as coisas do mundo. Todas e ao mesmo tempo. É o transtorno intermitente e perene de implorar por ‘um pouco mais’.

Saudade não é olhar pro lado e dizer “se foi”. É olhar pro lado e perguntar “cadê”?






Por Lucas Silveira